ou
Meias Mudanças
Há coisas a que nos agarramos inconscientemente, sentimentos antigos do Passado que têm o poder de nos agarrar durante a noite, que povoam os nossos sonhos e os nossos pesadelos. Pessoas...
Fiz meias mudanças quando por alguns meses me desprendia, dizia 'Nunca mais!', queixava-me, vitimizava-me, largava... Mas depois voltava, e voltava o queixume, a vitimização... 'Ele é que volta!', mas eu deixava. Eu é que deixava as válvulas do coração meio-abertas num sopro, numa arritmia permanente de: 'E se não houver mais ninguém? E se for isto tudo a que tenho direito? A meias verdades, meios sentimentos, meio juntos, meio separados' para que ele pudesse voltar a entrar, e enfraquecer o miocárdio, numa cardiomiopatia dilatada sem força de contracção tanto aguentar cá dentro como para expelir cá para fora.
Mas há mudanças a que já não se deve a si mesmo, mas sim a todos os que estavam lá quando ele não estava. A todos os que viram lágrimas fossem elas no meio de uma festa da faculdade, no meio do Carrer Aribau em Barcelona, na A8 a caminho de Lisboa, no quarto a meio da noite... Que gostavam realmente, e que só queriam que divertisse, que deixasse ir, e que fosse feliz porque: Esse gajo é uma besta! Está a brincar contigo! Tu mereces melhor! Mereces alguém que goste mesmo de ti! Toda a gente merece! Que se deve também a todas pessoas que poderia ter tido, e que teriam gostado mesmo e tratado melhor. Porque depois deixam de ser erros, deixa-se de ser vítima para ser estúpida, e perde-se o direito de queixar, e um dia as pessoas que lá estavam deixam de estar.
Há mudanças que se devem mais aos outros, por gostarem de nós, e quererem que sejamos felizes.
Então se temos de sofrer os efeitos secundários da digoxina? E andar em estado intoxicado, com o orgulho ferido, por percebermos finalmente que não somos mais do que ninguém? Não sou a pessoa por quem alguém sente sentimentos tão fortes que um dia o vão fazer mudar. Não sou diferente de todas as pessoas que já saíram magoadas de histórias parecidas. Sou uma pessoa como as outras, e tenho direito às mesmas coisas, ao bom e ao mau. Sou temporária, fortuita, e finita. Não sou mais do que ninguém, e preciso de mudar.
Nicas