Era muito pequena quando conheci Lisboa, colossal para mim na altura, a capital era uma mistura de pessoas com carros, edifícios e luzes. Ir a Lisboa para mim era a fuga do verão. Mais tarde quando tinha de escolher para onde queria ir estudar quando fosse para a Universidade, dizia muitas vezes: Lisboa não, está mais do que vista Lisboa. Mas acabei por escolhê-la na mesma. Depois apaixonei-me por ela, por passear por ela sozinha, explorando-lhe as ruas e conhecendo-lhe os sítios.
Mas talvez ela nunca me tenha perdoado a traição de a considerar mais do que vista, e nunca me deu muito dela, nunca a vivi em pleno, e nunca cresci muito com ela.
Agora aqui em Barcelona, a caminho de casa sozinha, por estas ruas orgulhosas imponentes catalãs, é que entendo o quão insignificante se pode ser neste mundo. O não ter ninguém para quem voltar... Até o telemóvel tinha morrido. Só uns trocos na carteira, e cartão praticamente sem dinheiro suficiente sequer para levantar. Mas é meia noite e ainda passam por mim estrangeiros (como eu) de bicicleta, ainda pessoas passeiam o cão, mas mesmo assim quando chegar ao ferrocarril já não vou ter comboio para voltar para casa, e vou ter de esperar por autocarro da noite que só começa a circular à uma e meia, e eu aqui sozinha, estou a pôr-me a jeito, vou pensado.
Mas antes vou ter de ir para a Praça da Catalunha que nem sei em que direcção fica. Pergunto às pessoas na rua: Plaça de Catalunya, cerca daquí? No, no... No es cerca. Ainda tenho viagens nos bilhetes, bastantes, vou procurar um autocarro. Apanho um autocarro que vai tão atrasado que já nem era suposto estar a circular. Às tantas vou sozinha nele e o condutor pergunta-me para onde vou, Plaça da Catalunya digo eu, Ferrocarril, e o condutor responde que me vai dizer cerca do ferrocarril, que se der uma corrida ainda o apanho, mas qual quê? Não apanho nada. Corro na mesma... Quando chego o senhor da estação pergunta-me qual quero apanhar, S2, S2 já partiu, bem me parecia. Lá vou eu para a paragem do autocarro. McDonalds! O melhor consolo para quem tem de esperar uma hora e vinte, e está morta de fome, por não ter conseguido comer nada onde era suposto estar, e não ali sozinha. Compro um Happy Meal,e calha-me um Louigi no brinde, como é que mesmo tão fora de contexto aquilo me causou tanta nostalgia? E consolei a barriga.
Olho para as luzes da rua: Barcelona, estás a querer ensinar-me alguma coisa hoje? A parte boa é que posso esperar pelo autocarro ali dentro, porque como o telemóvel morreu não tenho música para ouvir. Are you wainting for the bus too? Bellaterra? Era uma moça que estava aqui sentada com o telemóvel quando eu entrei. Yes, just lost the train... UAB, eramus? Era holandesa, chamava-se Loulou, estava contente porque tinha discutido com o namorado, mas entretanto estava a falar com ele pelo telemóvel e já estava tudo bem, gostava mesmo dele, não conseguia imaginar-se sem ele, e já estava cansada de 'sleeping around'. Pedia desculpa por estar sempre com o telemóvel, e eu digo que entendo, se tivesse um namorado também ia quer andar sempre assim... Vanessa! Isto encontra-se tudo aqui! Era uma amiga portuguesa do Porto que andava a passear com os amigos de uma amiga lituana que vivia com ela e desistiu do eramus, mas entretanto os amigos já tinha comprado as passagens, e ela teve de recebê-los pela amiga porque ela entretanto já tinha 'fugido' para a Lituânia. E pronto, logo deixei de estar sozinha. Chego a casa, deito-me... Oh Barcelona, estamos a começar a conhecer-nos melhor.