quinta-feira, julho 21, 2016

Ratos

Todos os verões os meus pais se chateiam, e todos os verões o motivo é estúpido. No ano passado chatearam-se porque existe sempre um dia da festa Ferrel que o meu pai arranja maneira de ir sozinho. A minha mãe ficou chateada porque não percebe porquê.

Os homens são criaturas do mal. Andam sempre a dizer que as mulheres são complicadas e paranóicas, mas todo o homem (ou os que eu conheço) têm muito de ratos. São ratos à maneira de cada um. Mas são ratos. O que o meu pai fazia todos os anos era dizer durante o dia ora que ia à festa, ora que não ia. Cansava-se o juízo da mulher que às tantas irritada dizia: Olha não vou! Vai sozinho! E lá ia ele, rato contente, sozinho para a festa. O meu cunhado uma vez escondeu o café lá de casa, mesmo depois de eu comprar imensas caixas de café para toda a gente, e não disse nada até a minha irmã se descoser e dizer que tinha sido ideia dele. O meu primo Diogo trata mal as pessoas, e depois diz mil e uma mariquices que não teve intenção de ofender, e passa sem pedir desculpa, fazendo inception na cabeça das pessoas, que acabam por acreditar que interpretaram mal as palavras dele, quando ele realmente tinha mesmo ofendido, por que é estúpido e manipulador. Um amigo meu 'demonizou' a mãe dele para a poder usar como desculpa sempre que não lhe apetecesse fazer alguma coisa connosco.

Um amigo meu é muito cru a falar dessas coisas. Lembro-me de ficar paranóica porque um moço não respondia às mensagens, e eu comecei a pensar que seria por causa de algo que eu disse, ou porque já se tinha esquecido de mim. Então ele disse-me: Vanessa, é de propósito. Quando voltar a falar vai fazer-se de coitadinho, e vai dizer que não disse nada por que tu não disseste nada. Esse tipo de manipulação é bastante frequente segundo ele, e é totalmente propositada.

Dizem que são mais despreocupados, e não são paranóicos como as mulheres. São ratos... Todos.

Não sei descrever bem que tipo de homem é o meu pai. Calado é o melhor adjectivo. Mas é um calado oportunista, que engole tudo o que ouve, e quando apanha a minha mãe um bocadinho mais mole, mais bem-disposta: Rebenta! É tudo dele. Odeio isso, porque normalmente sobra para mim. Eu é que consolo a minha mãe. Sempre que rebenta, é um todo um vómito de estupidez que não lembra a ninguém. Eu acho que o meu pai tem uma crise de idade dentro dele que, por que ele não tem dinheiro para comprar um carro desportivo, se vai revelando aos poucos em atitudes estúpidas.

A minha mãe, por outro lado, é das mulheres mais independentes que existe. Super desenrascada, a minha mãe é electricista, carpinteira, jardineira... eu sei lá, tudo! Lá em casa. (O meu pai não faz nada. Diz que se precisar que sabe a quem ligar.) Mas depois é muito sensível, sente tudo à flor da pele, principalmente porque ele a apanha assim desprotegida. Todavia, é parva também. Ela fica naquela eu não mereço isto, eu não mereço isto. Se fosse eu virava-lhe as costas e mandava-o ir... enfim

E é por isto que eu tenho problemas...

Nicas

É chato ser adulto

É chato crescer. É chato ser adulto. Esta é a conclusão a que se chega quando se acaba o curso, e ainda não se é ninguém. Eu sinto que só vou ser alguém quando tiver trabalho. Quando ganhar o meu dinheiro (que vou certamente gastar todo em material de corrida, e em viagens para sítios inóspitos de mochila às costas). 
Não me interessa muito ser adulta. Não me interessa arranjar um namorado, casar-me, ter filhos... Não me interesso por isso. Toda a gente tem isso. Toda a gente deseja isso para nós... Mas todos temos definições diferentes de felicidade. E amar... Amar é bom, mas magoa demais, e para mim não compensa, não consola.

E durmo mal. Durmo mal porque por mais que tenha o Mundo todo como possibilidade, sinto que o Mundo me tranca as portas. E este Mundo está cada vez mais virado do avesso, e eu não consigo conviver com a falta de respeito e de Humanidade que existe para com as outras pessoas, e a Natureza...

É chato crescer.

Nicas

terça-feira, julho 12, 2016

De dia 10 para dia 11

Ainda durmo mal, ainda cheiro mal, e ainda sinto uma adrenalina e uma ansiedade difíceis de explicar. Primeiro já sou veterinária. Já sou crescida, qualificada em grau de mestre, e agora vou ter de me ir fazer à vida. Segundo, somos campeões europeus de futebol.

No dia 10 já nem queria muito olhar mais para o powerpoint. Não era a apresentação que me preocupava. O que me preocupavam eram as perguntas que me iam fazer, e por onde iam buscar para espremer. Eu sei que sei pouco, e que tenho muito que aprender. Já não me lembrava que se chamava artéria facial transversa, mas sabia que passava junto à órbita, e era por onde se recolhia sangre arterial para medir o 'volume' (coiso) de oxigénio (pressão parcial de oxigénio em milímetros de mercúrio). O pulso jugular à entrada do peito, também é normal e não faz mal a ninguém. Sabia que a hipertensão pulmonar provocada sobrecarga no lado direito do coração, mas claro que precisei de pensar que ia originar lesões valvulares e por aí a fora... A minha tese era sobre arritmias, e a cardiologia não é para meninos. Mas eu disse que gostava dela exactamente por isso, e que me dava vontade de a saber toda, e que esta tese e a revisão que fiz não fizeram de mim cardiologista, nem sabia se algum dia o iria ser, mas que gostava? Oh sim, gostava e gosto.

E estive a ali a lutar contra o cansaço e o sono de uma noite mal dormida, depois de um jogo emocionante que não podíamos perder. Tivemos o bom prenúncio das vitórias alcançadas no atletismo a alimentar uma fé que não era assim tanta, mas que mesmo assim, era gigante. Um jogo que só pensava que fosse como fosse, nem que fosse com o Éder e o Eliseu, e o Eduardo na baliza, e o Coentrão sem condições e de havaianas repescado das bancadas, porque o Payet tinha dado porrada a toda a gente (sem que fosse considerado falta): Tínhamos de ganhar. Chegou uma altura que parte de mim começou a achar que alguma força do além estava tanto por nós, que mesmo a jogar melhor que Portugal, a França não nos ia ganhar na final. Foi o Elefante, foi a tartaruga... Foi o reino animal todo do nosso lado, e até foram para lá as traças dar uma força. Napoleão também não conquistou o pequeno Portugal, mesmo sem Rei e sem nada mais do que a inteligência de quem cá ficou a dar tudo por nos proteger. É uma comparação forçada, mas aquela vitória também foi.

E é desmantelando o coração dos apreciadores de futebol franceses, que nós mostramos que não precisamos que eles nos respeitem ou gostem nós. Nós valemos por nós mesmos, e assim até vamos lá partir aquilo tudo com mais gosto ainda.

Foi com muito adrenalina, stress, emoção, ansiedade, felicidade, e outras coisas mais que estes 2 dias passaram num instante.

Este Verão é todo nosso.

Nicas
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